quinta-feira, 3 de maio de 2012

A questão abolicionista e a situação do negro no pós Lei Áurea.


O Rappa - Todo camburão - 1994

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Tudo começou quando a gente conversava
Naquela esquina alí
De frente àquela praça
Veio os homens
E nos pararam
Documento por favor
Então a gente apresentou
Mas eles não paravam
Qual é negão? qual é negão?
O que que tá pegando?
Qual é negão? qual é negão?
É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
É mole de ver
Que para o negro
Mesmo a aids possui hierarquia
Na áfrica a doença corre solta
E a imprensa mundial
Dispensa poucas linhas
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Ou das colunas sociais
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro


ATIVIDADES

1) Explique o que você entendeu do seguinte trecho da letra da música:"(...)é mole de ver
que em qualquer dura
o tempo passa mais lento pro negão
quem segurava com força a chibata
agora usa farda
engatilha a macaca
escolhe sempre o primeiro
negro pra passar na revista
pra passar na revista (...)"

2) Identifique, após a leitura e audição da música, situações que demonstrem preconceito.

3) Após assistir o trecho sobre como os negros eram transportados nos navios negreiros – trecho do filme: Amistad. Responda, por que o compositor faz essa comparação; “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”?
Resenha do filme: Amistad

4) Utilizando a letra, monte uma charge, componha uma letra de música, um texto jornalístico ou poema para exemplificar a denunciar esta situação.

Atividades de aprofundamento
A mão da limpeza
Compositor e intérprete: Gilberto Gil - LP Raça Humana, 1984.
Participação especial: Chico Buarque de Hollanda

O branco inventou que o negro
Quando não suja na entrada
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Que mentira danada, ê
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o negro penava, ê
Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão
De quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão
É a mão da pureza
Negra é a vida consumida ao pé do fogão
Negra é a mão
Nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão
De imaculada nobreza
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
Eta branco sujão

Gilberto Gil inicia a música mencionando uma expressão infeliz que aparece muitas vezes em situações de preconceito e discriminação aos negros: “O branco inventou que o negro quando não suja na entrada vai sujar na saída”. Identifique na música elementos que permitem explicar porque o compositor refere-se à expressão acima mencionada como mentirosa.

Na música, Gilberto Gil faz uma comparação entre o passado e o presente mostrando que a abolição da escravidão não trouxe grandes alterações nas condições de trabalho dos negros, uma vez que continuaram “limpando a sujeira” dos brancos.
Reflita sobre os trechos da música destacados a seguir e exponha a sua compreensão sobre eles, relacionando-os à afirmação acima:

Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão
De quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão
É a mão da pureza
Negra é a vida consumida ao pé do fogão
Negra é a mão
Nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão
De imaculada nobreza

Leia com atenção o que disse Gilberto Gil a respeito da composição da música “A mão da limpeza”:
“Eu fiz A Mão da Limpeza para repor certas coisas no lugar e remendar um preconceito histórico contra os negros; para responder, no mesmo tom, um desaforo - o velho ditado: 'Negro, quando não suja na entrada, suja na saída.
Ocorriam-me imagens de lavadeiras lavando roupa nas beiras de rios, inúmeros, por que eu passei no interior da Bahia e outros lugares; de cozinheiras negras, jovens e velhas, espalhadas pelas cozinhas do Brasil; de várias faxineiras limpando as casas. Ocorria-me com muita nitidez o quão acionados e quão importantes são os negros para o trabalho de limpeza em geral que é feito na vida, e também com tamanha nitidez o quão sujadores são exatamente os que têm mais recursos, os mais ricos, os mais beneficiados da sociedade que, em sua grande maioria, correspondem à classe mais clara, a faixa mais branca.
Quer dizer, os negros são tão maciçamente empenhados na função da limpeza da comunidade e acabam sendo acusados de ser os sujões. No fundo, o provérbio tem uma conotação nitidamente moral, além de física; o que se tenta considerar como sujo no negro é sua existência, sua pessoa, sua condição humana. Nesse sentido é muito mais terrível, e a música nem alcança a dimensão da crítica disso; ela apenas toca nisso.
Mas jogando a sujeira como algo produzido preferencialmente pelos brancos, ela faz a limpeza da nódoa que quiseram impor aos negros. E deixa implícita também uma condenação moral aos brancos. Ou seja: 'Sujos na verdade são vocês, de corpo e alma; pelo menos, mais sujos que os negros vocês são. Há muito mais sujeira a apurar ao longo do processo da civilização de vocês do que da nossa.' É o que a música diz. E ela diz o que tem a dizer, com contundência e eficácia."

Fonte: Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul). http://gege.refazenda.com/popup_letra.php?id=310 
Discuta com os colegas e com o professor as idéias centrais da entrevista de Gilberto Gil, expondo as suas conclusões sobre o assunto e, em seguida, registrando-as no caderno.

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